O livro foi muito além do que eu esperava, fui em busca de algum tipo de manual ou atalho para aprender os segredos da edição cinematográfica de Walter Murch (que apesar da aparente intimidade ainda preciso conhecer melhor), mas além de apresentar de forma primorosa o seu processo criativo e técnico, o que ele me ofereceu foi um agradável passeio pela história do cinema apresentando em poucas páginas as diversas complicações e evoluções que o processo cinematográfico passou durante todos esses anos.
É de comum conhecimento que o cinema é uma arte coletiva e é isso perceptível no livro, ele não se fecha em volta da área de edição. Ao falar dos desafios da profissão e dos percalços que surgem no meio de uma produção ele por muitas vezes cita o seu relacionamento com o diretor, com o técnico de som, o produtor ou os diversos assistentes de edição.
O que me impressionou também foi a forma como ele aborda a transição do cinema analógico para o digital, como a indústria reagiu e as suas consequências. O curioso é que hoje nós estamos vivendo um período que ele tentou prever, creio que a última edição do livro tenha sido em meados de 1999, e muita coisa mudou de lá pra cá, naquela época o cinema digital estava começando a se tornar viável e hoje ele é, mas ainda gera uma série de debates e que alguns deles você terá o prazer de ler no livro, não sou eu que vai estragar a sua experiência, estou aqui apenas como um agente da curiosidade :D
O livro é obviamente indicado para editores ou para quem ama cinema e sua história. A linguagem não é totalmente técnica e utiliza várias analogias com coisas do cotidiano e em alguns momentos até flerta com a filosofia. Adorei a visão de Walter não apenas sobre o cinema, mas sobre a vida.
Se tiver que abrir mão de alguma coisa, nunca abra mão da emoção em benefício do enredo. Não abra mão do enredo em benefício do ritmo, não abra mão do ritmo em benefício do alvo da imagem, não abra mão do alvo da imagem em benefício dos planos e não abra mão da dimensão dos planos em benefício da continuidade. A Regra de Seis de Walter Murch
Comments